quinta-feira, 29 de março de 2012

Enrelvamento da Vinha

Durante muito tempo as mobilizações do solo consistiram na principal técnica de manutenção do solo na vinha, tendo sido complementadas nas últimas décadas com a aplicação de herbicidas residuais ou em mistura com folheares, na linha ou a toda a área (Moreira e Monteiro, 2000/1). As consequências ambientais, designadamente a erosão do solo, o arrastamento de nitratos, a perda de matéria orgânica, a diminuição da biodiversidade, o aparecimento de infestantes resistentes aos herbicidas e a contaminação de toalhas freáticas com herbicidas residuais, aconselham a utilização de sistemas de gestão do solo vitícola que minimizem aqueles efeitos.
A mobilização do solo afecta a compactação e distribuição da porosidade do solo, os agregados e a rugosidade da superfície do solo (Gallandt et al., 1999), tendo implicações directas no escoamento da água em profundidade e na erosão do solo (Basch, 2002).


O enrelvamento constitui um sistema de gestão do solo recomendado em viticultura sustentável. O enrelvamento duma vinha pode ser permanente ou temporário, semeado com uma única ou várias espécies vegetais, ou natural (flora residente). Tem associado potenciais benefícios mas também desvantagens ou problemas. As vantagens mais comuns do enrelvamento consistem na redução da erosão do solo (Riou e Pieri, 1998; Shanks et al., 1998; Geoffrion, 2000; Lisa et al., 2002), na adição ou conservação do azoto e da matéria orgânica (Morlat et al., 1993; Crozier, 1998; Hirschfelt, 1998; Geoffrion, 1999), na melhoria da estrutura do solo e da infiltração da água (Prichard, 1998) e na melhoria da trafegabilidade das máquinas agrícolas o que facilita os tratamentos fitossanitários (Remund et al., 1991; Lisa et al., 2002; Lopes e Monteiro, 2003).
O enrelvamento, pelos seus efeitos na redução do vigor da videira, pode melhorar o microclima do coberto, reduzir a incidência de Botrytis cinerea Pers. (Frazão, 1989; Crozier, 1998; Frazão e Moreira, 1990; Geoffrion, 2000) e aumentar a temperatura dos bagos (Morlat et al., 1993; Maigre, 2001; Geoffrion, 2000). Aqueles efeitos podem repercutir-se na diminuição da acidez total do mosto (Pacheco et al., 1991; Chantelot et al., 2001), no aumento dos compostos fenólicos (Agulhon, 1996) e do teor alcoólico dos vinhos (Geoffrion, 1999).


A presença da flora aumenta a biodiversidade, podendo ser benéfica para os auxiliares e populações de minhocas (Geoffrion, 1999; 2000), e permite enxugar solos com tendência para o encharcamento (Riou e Pieri, 1998).
A principal limitação da utilização do enrelvamento está relacionada com a competição hídrica da flora relativamente à videira, pelo que, em geral, não é uma técnica recomendada para situações ecológicas de deficits hídricos estivais, onde não há possibilidade de rega (Prichard, 1998). Num estudo efectuado num pomar na Califórnia Central, aquele autor refere aumentos de 10 a 30% no consumo de água das modalidades enrelvadas comparativamente às tratadas com herbicida. No mesmo estudo verificou-se que o consumo de água do relvado de gramíneas, cortado no Verão e formando palhagem, foi semelhante ao do solo mobilizado.

A longo prazo, e na ausência de adubação azotada, o enrelvamento pode induzir uma redução do azoto total do mosto e, consequentemente, perturbar a actividade das leveduras durante a fermentação alcoólica (Maigre et al., 1995; Agullhon, 1998; Chantelot et al., 2001; Geoffrion, 1999). Ao fornecer alimento, o enrelvamento pode aumentar a população de mamíferos roedores, em particular de coelhos e ratos (Whisson e Giusti, 1998). Como outras desvantagens do enrelvamento, são ainda referidas diminuições significativas da área foliar e da produção (Maigre e Murisier, 1991; Maigre et al., 1995; Maigre, 1996; Riou e Pieri, 1998; Geoffrion, 2000; Maigre e Aerny, 2001; Lisa et al., 2002).
A utilização de herbicidas folheares pode diminuir os riscos ambientais provocados pelas mobilizações e pela aplicação de herbicidas residuais (Cerejeira et al., 2000) e permitir uma diminuição de custos (Marocchi, 1987). Contudo, a opção pelos herbicidas folheares tem que considerar a rotação de herbicidas, afim de prevenir o aparecimento de infestantes resistentes, e a época de aplicação de modo a limitar entre outros efeitos negativos, a erosão e a lexiviação de nitratos.


Neste trabalho analisa-se o efeito de quatro sistemas de manutenção do solo da vinha, na biodiversidade florística da vinha, no vigor e produção da videira e na qualidade do mosto. 

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